Desde a era industrial as horas de sono diminuíram gradativamente ao passo que a obesidade e enfermidades cardiocirculatórias se consolidaram como problemas graves de saúde pública.
A relação entre sono e doenças insuspeitadas anteriormente está cada vez mais evidente quando observamos o estilo de vida da nossa população, o descanso cada vez mais reduzido em detrimento do “alto rendimento profissional” e o apelo crescente pela internet.
Será que é ilusão ou ainda há um alto grau de desinformação ao supormos que continuaremos a ter o mesmo desempenho nas nossas funções diurnas, uma vez que insistimos em ignorar a necessidade e a importância do sono em nossas vidas?
Vejamos alguns detalhes a respeito desse assunto:
O sono é um processo dinâmico, vital para a saúde e depende do equilíbrio psíquico, neurológico e hormonal. A sua estrutura é composta de 5 fases: estágios 1, 2, 3 e 4 do sono de ondas lentas ou NREM (sem movimentos oculares rápidos) e sono REM (com movimentos oculares rápidos).
Para considerarmos o sono reparador é preciso que, ao longo da noite, ocorra de quatro a seis passagens em cada uma dessas fases, sendo necessários cerca de 70 a 120 minutos para completar cada ciclo.
O sono REM, conhecido também como a fase dos sonhos, é importante para o aprendizado, raciocínio, criatividade e sedimentação de conhecimentos adquiridos ao longo do dia. É fato que as pessoas necessitam de quantidades variáveis de horas de sono, porém o mais importante é a qualidade dessas horas dormidas e, consequentemente, se esse sono será capaz de restabelecer física e psiquicamente a pessoa para o dia seguinte.
No processo respiratório normal durante o sono, os músculos da garganta a mantêm aberta para que o ar chegue até os pulmões e a homeostase seja mantida. Um evento de apneia obstrutiva ocorre quando, devido ao relaxamento muscular, a boca se abre e a língua desliza em direção a garganta impedindo a passagem de ar por períodos curtos de tempo. Essas interrupções repetitivas da respiração ao longo da noite fragmentam o sono, ou seja, não permite que a pessoa atinja o sono profundo e prejudica a oxigenação sanguínea dos tecidos do corpo.
As repercussões clínicas podem ser objetivas e subjetivas e constituem um fator alarmante no desenvolvimento de problemas físicos, com aumento da pressão, arritmias e maior predisposição para infarto; psicossociais, por desajustes nos padrões emocionais, sexuais, trabalhistas e familiar, principalmente, entre os cônjuges. Trata-se de uma condição complexa que requer equipe multidisciplinar, tanto no diagnóstico, por meio de polissonografia, quanto no tratamento.
Os sinais e sintomas mais frequentes da apneia do sono são ronco alto e intenso, sonolência excessiva durante o dia, sono agitado e deficits cognitivos (lapsos de memória, dificuldade de concentração e de raciocínio), além de irritabilidade persistente, cansaço crônico e mau humor. Vários fatores podem contribuir para o seu surgimento ou agravamento como a obesidade, predisposição genética, alterações anatômicas (queixo pequeno) e hormonais, idade, ansiedade e depressão.
A abordagem das pessoas com distúrbios do sono deve ser sempre multiprofissional devido às causas multifatorias desses distúrbios e aos benefícios que esta visão integrada traz ao paciente. O tratamento multidisciplinar pode envolver diversos profissionais da área de saúde como médicos, dentistas, fonoaudiólogos e psicoterapeutas. É definido especificamente em cada caso, na singularidade da pessoa e consiste na compreensão das escolhas diurnas da vida que perturbam o sono e o reconhecimento das consequências nocivas que o desgaste físico e psíquico pode provocar na superação das exigências do meio ambiente.
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